quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Rússia

Tudo começa e termina lá. Tudo bem, na verdade a causa primaria é na Inglaterra, mas a causa primaria não faz parte do ser em si e sim somente do que veio antes. Talvez eu precise explicar no futuro como Salazar Servolo surgiu, até porque a idéia de Tom ter um filho parece surreal aos fãs de Harry Potter, mas como eu não estou contando verdades, Tom teve sim um filho: Salazar Servolo.
Antes mesmo dele nascer sua mãe aparatou para um vilarejo bruxo no interior da Federação Russa, era uma vila realmente muito pobre e simples, devia possuir sete casas no máximo e absolutamente nenhum estabelecimento comercial, na verdade não podia nem se chamar de vila e sim de um pequeno gupinho de casas. A questão é que em cada casa vivia um bruxo, e cada bruxo se ocupava de tarefas diferentes e com um ajudando o outro, aquele grupinho fechado, discreto e esquecido sobrevivia no isolamento quase que total, se não fosse a fiscalização do Ministério Russo. Não que esses bruxos fossem amigos ou vivessem em paz, eles só tinham um acordo e algumas coisas fundamentais em comum.
Confesso que nunca tinha pensado no nome da mãe de Salazar, tinha a ideia que talvez outro jogador pudesse fazer isso por mim, só imaginei que ela fosse loira e bastante amargurada. Era uma mulher sem caráter, era mesmo, ela não tinha nenhuma virtude, nenhum atrativo, nada, talvez a única coisa de especial nela fosse medo, sua fraqueza e sua submissão, até porque uma mãe precisa ser assim para entregar seu filho para sacrifício quando fosse preciso, afinal, Tom não faria nada por amor. Apesar dele ter um senso de humor muito peculiar e uma risada bem engraçada quando não era assustadora, Tom não era nada amável.
E lá apareceu a mãe do Salazar (nunca pensei no nome dela e não vai ser agora que vou pensar, até porque o nome dela não interessa). Com aquele barrigão de nove meses, sem nenhuma bagagem e quase sem agasalho, num inverno cruel (sabem como é o inverno da Rússia né?) quase morrendo de hipotermia e choque térmico bateu na porta de madeira do casebre de sua irmã. Claro que ela estaria lá, onde mais ela poderia estar? E se eu não pensei no nome da mãe do Salazar, porque diabos iria pensar no nome da irmã dela? Mas talvez para melhorar na forma de escrever a história seja preciso de nomes, então vamos chamar a irmã de Savena, eu gosto desse nome, e vamos chamar a mãe de Salazar de Stella.
Savena abriu a porta, sem imaginar que poderia ser Stella, foi uma visita completamente inusitada. Savena era uma mulher mais velha que a irmã e aparentemente amargurada de mesma forma, mas era infinitamente mais forte, o que não a torna muito forte. Deixou a irmã entrar, até porque seria desumano permitir que uma gravida morresse do lado de fora de tanto frio e ofereceu a poltrona velha e surrada para Stella se sentar.
- Pensei que morreria sem lhe ver. – Comentou Savena caminhando até a lareira e com uma vara de metal alimentando o fogo.
- Digo o mesmo, mas os tempos mudaram. – Stella se sentou na poltrona e fechou os olhos sentindo o calor do fogo.
- O que houve?
- Mi Lorde morreu hoje. – Savena moveu os olhos de prata para a irmã e a encarou muito séria.
- O que está me falando?
- Ele morreu... Eu acho, tudo indica que morreu.
- Ele não era o maior bruxo das trevas de todos os tempos?
- Ainda é.
- E como o maior bruxo das trevas de todos os tempos morreria?
- Não sei, algo deu errado na casa dos Potter e ele desapareceu, ele foi até lá para matar a criança, mas o menino continua vivo. – Stella estava quieta observando a irmã, que ainda segurava a vara de ferro no fogo, mas parecia ter se esquecido de continuar mexendo, nem decidido ir se sentar também, parecia paralisada, apenas prestando atenção na história de Stella.
- E o que eu tenho com isso, por que está aqui?
- Preciso de abrigo.
- Peça ao seu marido. – Savena indicou a barrigona de Stella com o olhar, mas depois voltou a encarar a irmã nos olhos. – Ou é mãe solteira?
- Ele está morto. – Respondeu Stella e sorriu de leve, não foi um sorriso feliz nem triste, era apenas irônico.
- Isso é uma pena. – Alguém realmente acha que Savena sentiu ou demonstrou pena? Claro que não, ela estava preocupada demais para se preocupar com a viuvisse da irmã, Stella estava ali para lhe trazer problemas.
- Ele sabia que isso poderia acontecer.  A questão é que eu serei procurada pelo Ministério Britanico, eles sabem que eu era seguidora de Mi Lorde.
Savena então pela primeira vez se moveu, deixando a barra de ferro no chão e caminhando para se sentar na poltrona igualmente velha a frente da irmã.
- E quer que eu de abrigo à uma foragida?
- Não. Quero que dê abrigo à mãe do filho do maior bruxo das trevas de todos os tempos.
- HAHAHAHAHA. – Quem olhasse para Savena não imaginava que ela poderia gargalhar assim, mas Stella tinha realmente falado algo muito engraçado. – Stella, ainda delirando? – Mas Stella não riu. Continuou fitando a irmã com calmaria de sempre. – O que ele veria em você?
- Eu não questiono as ordens de meu mestre, ele apenas quis um filho meu.
- Ora, você nem é de todo puro sangue. Ele não teria nojo?
- Ele teria nojo de qualquer coisa parecida. Mas ele não se interessa no meu sangue.
- Se interessa no seu amor? HAHAHAHAHAHA – Tornou a rir achando a conversa de fato divertida agora.
- Não, ele não sabe o que é isso. Ele se interessa no menino. – Então acariciou a barriga.
- Então ele quer ser papai? HAHAHAHAHAHA.
- Não seja estúpida, como pensa essas coisas do meu mestre? Não faço idéia do que ele quer, ele só queria o menino.
- E como me prova que realmente essa criança é dele?
- Terá que esperar, até poder ver que ele também falará com cobras.
- Acha que pode me enganar com essa história Stella? – Perguntou séria, observando a irmã.
- Não, não se engana ninguém com a verdade.
- Deixarei você ficar, mas porque é minha irmã e porque precisamos de mais uma bruxa na vila. Mas não pense que sairá de graça, terá que trabalhar...
E assim as duas negociaram a estadia de Stella. Savena realmente não acreditou na história da irmã, mas ficou com uma pulga atrás da orelha, nunca tinha visto Stella falar tão sério daquela forma e a irmã nunca tinha passado tanta credibilidade ao contar uma mentira, ainda mais tão absurda como aquela, mas essa pulga atrás da orelha, Savena tiraria mais tarde.

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