quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Nasce o Herdeiro

Duas semanas depois da chegada de Stella à casa de Savena na Rússia, o inverno ainda era forte, na verdade, era sempre forte no alto daquele planalto onde ficava a casa, sempre muita neve. Stella entrou em trabalho de parto e apenas com ajuda da irmã, Salazar veio ao mundo. Lindo (tirando aquele sangue todo, eca), um bebezinho de pele bem clarinha e olhos tão cinzas quantos os da tia e da mãe, pouquíssimos cabelos loiríssimos (que ficariam castanhos mais tarde) e quase não chorou. Ele era quieto, quieto demais, não dava trabalho nenhum e até era prejudicado por isso. Bebês choram para chamar a atenção dos pais para suas necessidades, ele raramente fazia isso, dormia muito, não reclamava, falava pouco. Extremamente amável e doce.
Você precisa imaginar como foi crescer naquele lugar, em um lugar de sete casas, em uma casa de dois quartos extremamente mal cuidada, sem nenhuma criança e de pessoas muito frias, assim como o clima. Não existia absolutamente nenhum glamour, Salazar não era príncipe, não era divertido, nem era uma criança querida, os adultos de lá não sabiam amar crianças muito bem. Ele não tinha brinquedos, não tinha amigos, não tinha ninguém dizendo a ele quem ele era. A primeira vez que ele viu uma criança na vida tinha 5 anos de idade. Quase nunca via ninguém sorrindo, contando piadas adequadas. Algumas vezes os bruxos adultos se reuniam em suas casas para beber vodka e cantar musicas russas e piadas, eram risadas velhas, de homens barbados, mulheres mal cuidadas, piadas obscenas, não era o lugar certo para uma criança. O mundo de fora existia, mas só em jornais, a escola existia, mas não era pra ele, ele aprendia tudo com um dos seis vizinhos de Savena, um velho fedorento. Salazar nunca foi criança, ele realmente não teve infância e por não ter infância, nunca sentiria falta dela.
Ele também se tornou muito seco e muito frio, quase nunca sorria, não porque não se sentia feliz nunca, mas porque não aprendeu, não era acostumado com aquelas manifestações, era como se sorrir fosse algo que acontecia estranhamente nele e sorrir e rir era algo que ele tinha dificuldade em fazer, achava mesmo difícil e nunca saia natural. Tinha inclusive vergonha da sua risada, porque sua risada (de criança) era diferente da risada dos outros (velhos adultos). Ele era diferente de tudo que já tinha visto e continuava sendo assim.
Por incrível que pareça, ele era uma criança extremamente educada e prestativa, nada arrogante e nada maléfico como poderiam pensar. Não, Salazar não era mau. Aqueles que gostariam que fosse, sinto muito, mas não era. Deve ser broxante para alguns, devem se perguntar “porra Raquel, com o filho do Voldemort na mão, tu me faz o cara bom?”. É. Fiz e faço. Salazar era bom e apesar a “infância” peculiar, não tinha motivos para ser mau. Ninguém fazia mal à ele. Uns tapinhas ou outros da mãe não faz ninguém virar um bruxo das trevas. Todos conversavam com ele como um adulto sem grandes mimos, o que pode ser frustrante para criança, que por natureza é egocêntrica e exige atenção, mas por mais que fosse frustrante, ele não questionava aquela realidade, porque não conhecia outra.
E foi com cinco anos, e aí com a história porque acho interessante, que ele viu uma criança pela primeira vez. Stella precisava ir no Ministério entregar alguns documentos de Salazar e resolveu levar o filho junto. Foi a primeira vez de muitas coisas. Foi a primeira vez que saiu da vila, foi a primeira vez que aparatou, foi um puta susto.
Ele aparatou em Moscou, em um banheiro publico e logo arregalou os olhos com aquela luz estranha que vinha da lâmpada, aquele material claro, azulejo? Aquela privada era estranha, era tudo estranho, mal teve tempo de se manifestar quando sua mãe lhe puxou pela mão e foram saindo. Arregalou mais ainda os olhos como se fosse possível, era uma lanchonete? Aquele barulho todo, aquelas pessoas conversando, aquelas luzes, o pequeno Salazar chegou a fazer uma careta de pavor ao se deparar com aquele mundo estranho e soltou um suspiro de assombro quando a viu... Uma menina, com vestido rodado, cabelos loiros, bochechas rosadas, de mão dada com um adulto que não perecia tão rabugento quando os daquela vila.
- Oi. – Foi instintivo. Stella estava o puxando, iria embora e não escutaria nem a sua voz? Olhou assustado para a menina, que lhe olhou e sorriu de volta.
- Olá. – Disse ela doce, passando ao lado de Salazar.
- Meu nome é Salazar! – Disse ainda segurando a mão da mãe e sendo puxada por ela, quase alcançando a porta.
- Engraçado... – Disse a menina entre risos e levando a mão na boca. – Meu nome é... – Ele não ouviu, Stella abriu a porta e levou ele pra fora. Foi tanta informação que ele não soube o que pensar. Estava na rua. Mais pessoas, não tinha neve, ele viu o chão sem ter teto em cima, ele viu um carro, podem imaginar o horror? Olhou novamente para a lanchonete, não sabia ler, mas lembrou da entrada, tinha grandes vitrines de vidro. Coitadinho do Salazar. Ele nunca passou tanto tempo com os olhos arregaldos e carinha de apavorado em toda sua vida, ele olhou tudo e viu mais algumas crianças, algumas mais velhas que ele, maiores, falantes, rindo, tinha duvidas se era como ele. Não eram. Ninguem ali era como ele. Nem viu a hora que começou a chorar, ainda prestando atenção em tudo que lhe assustava e Stella o pegou no colo, para irem mais rápido. E no colo da mãe ele foi vendo tudo que passava, aqueles carros tão rápidos, aquelas pessoas tão mais belas, aquelas crianças, aquele comercio, tudo.
Claro que essa experiência foi marcante. Ele descobriu que existia um mundo que ele não conhecia, ainda. Isso não o fez ter um espirito totalmente libertário, mas o fez querer saber mais. Ele começou a se interessar pelos assuntos de fora começou até ter vontades mais bem elaboradas, queria ir para Durmstrang. 

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